Aquilo que nos prende é o material.
Por um lado, esta frase engloba tudo o que irei abordar nesta parte, mas por outro, é tão insuficiente como os nossos esforçoes para a libertação. Explico:
É através da experimentação que apreendemos o meio que nos é externo. Através das sensações, dos impulsos eléctricos que já são uma conversão. A obsessão humana prende-se à proximidade dessa imagem com a realidade, juntar o conceito de essência com o de existência, a percepção com a construção.
Na minha humilde opinião, é um erro.
A não ser que nos tornemos partículas conscientes, não nos será possível aproximar tais conceitos a um nível que seja sequer satisfatório.
Por isso, em vez de seguirmos esta cruzada (que na prática acaba por ser vã), devemos aperceber-nos de que aquilo que nos rodeia (o mundo humano) está/é composto por criações nossas. E, desse modo, devemos pensar não nos produtos materiais, mas na fonte teórica que está por detrás da criação. Devemos analizar o pensamento original, os impulsos eléctricos que, ao acaso ou não, acabaram por mudar o nosso mundo.
Mas não as nossas mentes.
Já tivemos várias revoluções de ideologia. Desde a época do Renascimento, a Revolução Francesa, a Industrial, e mais recentemente a Científica. Encontramos sempre uma contraposição de paradigmas: a evolução pela revolução.
Então se nós, máquinas biológicas pensantes, fomos já capazes de revolucionar a imagem que o "mundo humano" tem do mundo, porque ainda não conseguimos revolucionar a imagem que o "homem mundial" tem do homem? Porque não conseguimos ultrapassar essa "pequena" barreira?
Porque não conseguimos separar o físico do psicológico. Porque ainda vemos a morte como um castigo final, temendo-a para nós (medo de sermos julgados por alguém ou algo exterior/superior a nós), e por vezes provocando-a nos outros para, ilusoriamente, fazermos do meio em que nos inserimos um ambiente mais justo.
[Ninguém tem medo de nascer. A principal razão será porque ainda não temos uma consciência bem definida. Talvez não seja o melhor exemplo].
Ninguém tem medo de satisfazer uma necessidade básica. Ninguém tem medo de comer (a não ser que temam que daí advenha a sua própria morte, mas nesse caso não se trata de medo de comer, mas, mais uma vez, da morte em si). Porque tudo isso é algo que tem que acontecer, obrigatoriamente. Tal como a morte.
Assim, devemos aceitá-la, compreendê-la como parte da nossa vida, é uma característica associada a esta. Não podemos apenas perceber o que aconteceu, ou porque aconteceu. Devemos estar instruídos intrinsecamente da existência desse acontecimento na vida de cada um. compreender não é arranjar eufemismos, não é convencer alguém de que a pessoa "foi para um sítio melhor". É continuar a missão que cada um tem. O direito de acabar com a nossa vida é tão nosso quanto o de a começar. Nada temos a ver com ambos. O que interessa é que somos no breve período em que tomamos forma humana, não o quanto temos, ou deixamos a outros, não aquilo que fazem de nós. O nosso destino é um destino escrito por nós mesmos. E de cada caminho individual, sairá um pequeno passo para a Humanidade. Não é preciso ir à Lua para a Humanidade andar em frente. É preciso perceber o que implica ir à Lua. É preciso pensar de olhos fechados e mente aberta, não pensar nos bolsos para encher, não pensar nas armas para aos outros tirar, não pensar no ouro para ostentar. Isso não vale nada, e nunca valerá verdadeiramente!
Tomar consciência de que a cada conjunto de acções corresponde um certo conjunto de reacções.
Nada do que fizermos passará ao lado do mundo. Se é este o chão que pisamos, se é dele que nascemos e para ele regressamos, nada lhe escapará à atenção. Se existe alguma consciência máxima, será das pedras que pisamos no nosso caminho, o registo das nossas acções.
Pensar não é dormir ou ficar apático.
É acordar.
MFerreiro.
das mãos frias
Há 8 anos