segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Bu

Quase um mês.

Quase um mês estive eu longe de vocês, caros leitores.

No entanto, aquilo que para vocês foi quase um mês, para mim foi quase um ano.
Corri, sempre atrasado, para todo o lado. Corri, trabalhei, estudei, falei, olhei, aprendi, desaprendi, corri mais ainda, andei de transportes, sempre cronometrando o tempo de cada um, esperei por semáforos, por carros, por transportes públicos, por elevadores, por ser atendido, por comer, mas nem quando esperei consegui descansar, havia sempre demasiado na minha cabeça, nas mãos, nos bolsos, aos ombros, às costas e nas costas. Sim, no meio de tudo isto, ainda consegui ir fazer uma radiografia às costas.

Cantei, sorri, dancei, saltei. Mas muito pouco. Muito menos do que gostaria, do que preciso, sabem? Há sempre uma mão negra à volta do tronco que nos aperta e tira o ar, ou nos empurra e nos atira de cara ao chão, ou nos puxa e nos senta sem querermos, ou nos abana e nos confunde.

Essa mão negra é nossa. Mas isso é muito difícil de ver, sabem?

Quando esperam por algo, acabam por se convencer de que isso irá acontecer... Acabam por criar as expectativas, por se sentir bem em esperar tal coisa.

Errado.

Criam-se expectativas, cria-se uma obsessão pela proximidade do real ao imaginário: aquilo que desejámos terá que acontecer como desejámos.

E as lâminas da desilusão são mais fortes que o relembrar dos bons velhos tempos. Rasga-os, fere, e perfura todos os tecidos, menos os do futuro promissor.

"Amanhã será um dia melhor". Todos os dias penso ao deitar. But it doesn't work so often...

Acordo agitado... Não como, não falo, só corro... "Ok, este é daqueles dias..." Em que nunca irei parar. Nunca irei conseguir respirar neste dia. Nunca irei conseguir olhar para uma nuvem, ou para um pôr do sol, ou para uma flor, e deixar-me contagiar pela sua beleza, e transformá-la em bem estar. Não me deixam, só me empurram, não me deixam esticar um braço, abrir a boca, esboçar um sorriso, dizer duas ou três palavras... Não, hoje nunca irei conseguir dizer "Eu Amo-Te"... Não me deixam...


MFerreiro.