quinta-feira, 18 de março de 2010

Parte 3: Do renunciar dos problemas, ou do adquirir das soluções

Aquilo que nos prende é o material.
Por um lado, esta frase engloba tudo o que irei abordar nesta parte, mas por outro, é tão insuficiente como os nossos esforçoes para a libertação. Explico:
É através da experimentação que apreendemos o meio que nos é externo. Através das sensações, dos impulsos eléctricos que já são uma conversão. A obsessão humana prende-se à proximidade dessa imagem com a realidade, juntar o conceito de essência com o de existência, a percepção com a construção.
Na minha humilde opinião, é um erro.
A não ser que nos tornemos partículas conscientes, não nos será possível aproximar tais conceitos a um nível que seja sequer satisfatório.
Por isso, em vez de seguirmos esta cruzada (que na prática acaba por ser vã), devemos aperceber-nos de que aquilo que nos rodeia (o mundo humano) está/é composto por criações nossas. E, desse modo, devemos pensar não nos produtos materiais, mas na fonte teórica que está por detrás da criação. Devemos analizar o pensamento original, os impulsos eléctricos que, ao acaso ou não, acabaram por mudar o nosso mundo.
Mas não as nossas mentes.
Já tivemos várias revoluções de ideologia. Desde a época do Renascimento, a Revolução Francesa, a Industrial, e mais recentemente a Científica. Encontramos sempre uma contraposição de paradigmas: a evolução pela revolução.
Então se nós, máquinas biológicas pensantes, fomos já capazes de revolucionar a imagem que o "mundo humano" tem do mundo, porque ainda não conseguimos revolucionar a imagem que o "homem mundial" tem do homem? Porque não conseguimos ultrapassar essa "pequena" barreira?
Porque não conseguimos separar o físico do psicológico. Porque ainda vemos a morte como um castigo final, temendo-a para nós (medo de sermos julgados por alguém ou algo exterior/superior a nós), e por vezes provocando-a nos outros para, ilusoriamente, fazermos do meio em que nos inserimos um ambiente mais justo.
[Ninguém tem medo de nascer. A principal razão será porque ainda não temos uma consciência bem definida. Talvez não seja o melhor exemplo].
Ninguém tem medo de satisfazer uma necessidade básica. Ninguém tem medo de comer (a não ser que temam que daí advenha a sua própria morte, mas nesse caso não se trata de medo de comer, mas, mais uma vez, da morte em si). Porque tudo isso é algo que tem que acontecer, obrigatoriamente. Tal como a morte.
Assim, devemos aceitá-la, compreendê-la como parte da nossa vida, é uma característica associada a esta. Não podemos apenas perceber o que aconteceu, ou porque aconteceu. Devemos estar instruídos intrinsecamente da existência desse acontecimento na vida de cada um. compreender não é arranjar eufemismos, não é convencer alguém de que a pessoa "foi para um sítio melhor". É continuar a missão que cada um tem. O direito de acabar com a nossa vida é tão nosso quanto o de a começar. Nada temos a ver com ambos. O que interessa é que somos no breve período em que tomamos forma humana, não o quanto temos, ou deixamos a outros, não aquilo que fazem de nós. O nosso destino é um destino escrito por nós mesmos. E de cada caminho individual, sairá um pequeno passo para a Humanidade. Não é preciso ir à Lua para a Humanidade andar em frente. É preciso perceber o que implica ir à Lua. É preciso pensar de olhos fechados e mente aberta, não pensar nos bolsos para encher, não pensar nas armas para aos outros tirar, não pensar no ouro para ostentar. Isso não vale nada, e nunca valerá verdadeiramente!
Tomar consciência de que a cada conjunto de acções corresponde um certo conjunto de reacções.
Nada do que fizermos passará ao lado do mundo. Se é este o chão que pisamos, se é dele que nascemos e para ele regressamos, nada lhe escapará à atenção. Se existe alguma consciência máxima, será das pedras que pisamos no nosso caminho, o registo das nossas acções.
Pensar não é dormir ou ficar apático.
É acordar.

MFerreiro.

Parte 2: De instinto a extinto?

Tal como os genes têm a "mística" capacidade de se reorganizar aleatoriamente, também o cérebro humano tem a capacidade de misturar elementos que tenha apreendido, previamente, de forma nova, muitas vezes incompreensível, mas sempre surpreendente.
[Atenção, não devemos rotular uma nova ideia ou construção como inútil ou vã sem primeiro compreendermos todas as suas possibilidades de aplicação, práticas ou teóricas. O conformismo que nos rodeia impele-nos a criar preconceitos, a organizar o pensamento segundo aquilo que nos é fácil de agrupar. A isso, creio que chamamos falácia da indução.]
Assim sendo, não podemos, por facilitismo, sub-valorizar uma nova ideia, partindo do princípio que esta é composta por ideias anteriores, "apenas" organizadas de forma nova. Esta capacidade reorganizativa é a fonte de todo o engenho que dispomos. Antes de se falar sobre partículas subatómicas, tivemos que falar sobre átomos. Antes disso, falámos sobre substâncias, mas antes de as controlarmos, divertimo-nos a fazer pingar ferro sobre formas, depois de sabermos aquecer comida com um punhado de ramos secos e duas pedras muito especiais. E tudo isso apenas porque tinhamos fome.
Será que, após este processo de modificação de estruturas (com os mesmo elementos), iremos encontrar forma de nos prolongar a nós mesmo como o nosso próprio legado? Será que estamos dispostos a trpcar a nossa descendência por uma aprendizagem (quase) eterna? Sim, porque se atingirmos tal patamar de evolução, não nos poderemos dar ao luxo de sobre-popular uma Terra já escassa para tanta gente.
Quais são então os riscos? E se a nossa invulnerabilidade encontrar um inimigo à altura? Seja este interno ou externo, seja a decadência biológica ou um atentado à nossa existência, corremos sempre esse risco: a aniquilação total. O apagar de uma história evolutiva que nos é tão querida, mas apenas porque é a nossa. Se acabarmos como os dôdos, quem nos vai salvar do esquecimento? Nós criamos um registo das espécies que nos acompanham ou acompanharam, inclusivé da nossa própria. Mas se nós não a pudermos defender, não haverá outras espécies a fazê-lo. É por isso imperativo que tenhamos uma dupla função de defesa do conceito de espécie: preservar o meio que nos rodeia, e todos os seres que dele façam parte, e preservar a nossa própria essência como guardiões de um mundo, de uma realidade inventada por nós, mas que não nos pertence.

MFerreiro.

Parte 1: Da capacidade finita, ou da guerra contra as máquinas

Nada se sabe. De nada!
A única relação que estabelecemos com o mundo exterior faz-se através de um filtro que ainda mal compreendemos: o nosso cérebro. Tudo o que passa por ele é já um sinal convertido. Imagens, sons, cheiros, todas as sensações que dizemos ter são apenas uma emulação de algo que existe fora de nós, são uma interpretação cuja fidelidade não podemos avaliar. Os nossos instrumentos foram idealizados pelo nosso cérebro e criados, directa ou indirectamente, por entidades ao serviço do mesmo. Como podemos então testar a validade dos nossos resultados, se criámos as máquinas não à nossa imagem, mas à imagem daquilo que precisamos? Não dizendo que estas máquinas tenham sido criadas para provar que estamos certos, estas estão certamente viciadas pela nossa estrutura de pensamento, pelos nossos hábitos e manias. O humano (neste caso específico), ou qualquer outro ser, é incapaz de construir algo que o ultrapasse. Este facto pode ser interpretado como um mecanismo de defesa da própria essência dos seres, ou da matéria, ou apenas como um limite da inteligência universal. Desafio qualquer um a dar provas de qualquer coisa que ultrapasse a capacidade conceptual dos humanos, mas que tenha sido criada por estes.

MFerreiro.

domingo, 14 de março de 2010

Um palmo à frente

Nem sequer era um corredor assíduo. - Não mais do que quem apenas corre para autocarros. Quando tinha que ser, corria. - Naquele dia teve mesmo que correr.

Correu.

Correu como pouco ou nunca tinha corrido. Porque sentiu. Porque tinha que ser.

Estrada fora, sem ainda ter percebido para onde, ou de onde. Só sabia que era o seu objectivo. Correr.

O mundo ia caindo. Pedaço a pedaço, o mundo caía para o centro, já oco, desta nossa Terra. Nossa, pois nossa é também a responsabilidade por tudo o que nela fazemos.

A seus pés faltavam-lhe os apoios, e caiu também, para o seu mais profundo interior.

"Acorda... Que se passa?"
"Tive outra vez aquele sonho, mas desta vez durante mais tempo..."
"Não te preocupes..."
"Mas eu vi-te, e tu..."
"Não te preocupes... Eu tive o mesmo sonho, confia em mim..."

E o chão começou a tremer.


MFerreiro.

sábado, 13 de março de 2010

Filhos Da Madrugada

Não sabemos de dor, nem mágoa...

Abri os olhos sem querer, de manhã. De sobressalto. Como quando estamos a cair ou a fazer algo que nos impele a acordar, e o sonho batia à porta. (toc, toc).

Por minutos, fiquei no mesmo sitio, sem me mexer. Sem pensar. Aterrado, e calmo. E foi aí que o Dia acordou. O cão ladra. Eu saio do meu transe.

Que loucura!... sinto-me tão parado. Tudo a mexer-se à minha volta e a minha vida a mexer-se e o meu coração que bate mais rápido e a ansiedade chega e já não consigo parar, a culpa é tua, a culpa é tua, ou será minha, mas que seja de alguém para podermos acabar com isto, com esta apatia, com esta dor, com tudo o que nos prende e nos sufoca...

Respira fundo...

Não penses mais nisso, adia-o como fazes sempre, fica para outro e para outro até não poder ficar mais, até te esqueceres, até deixares de Existir, não interessa, passa à frente...senão não sei o que acontece...apertas-te mais dentro de ti, mas queres ser implosivo, ninguém merece aquilo que estás a passar, ninguém tem de levar com os teus problemas, contigo, com a tua vida que não anda ( já disseste )...

E lá estás tu...

Ciclo Vicioso...nunca te esqueças.

E, sem dares por isso, já vais na madrugada sem teres adormecido. E acordas sem dormir. E dormes sem acordar.

Ou já não sabes o que se passa. E sentes-te melhor...

...Foi por pouco...


Nirvana Blue

sexta-feira, 5 de março de 2010

Expedition Impossible

Prodigio é a mãe que nos avisa quando está a chover.

É o nariz frio ao sair para a rua de manhã.

O sol depois do temporal.

A procura incessante por algo novo.

Um banco no parque a convidar-te para te sentares.

A mão a tremer de ansiedade por outra página.

O regresso a casa.

Ouvir as histórias que as folhas das árvores têm para contar, quando o vento lhes dá voz.

Suportar outro dia com um sorriso na cara.